domingo, 9 de janeiro de 2011

Sirvam nossas façanhas

Vou começar esse texto de hoje de um jeito bem meu: vou fazer uma longa introdução até chegar ao ponto que quero.
Pois bem, durante o período de 2006 até o meio de 2010 trabalhei em uma empresa que me proporcionou conhecer diversas cidades do Brasil. Foi um período fantástico, conhecendo as peculiaridades de diversos lugares desse nosso país tão plural. Mas as coisas que mais me impressionavam eram: a reação e a expectativa das pessoas ao saber que eu era gaúcho.
Tirando eventuais piadinhas e brincadeiras, que normalmente mais ajudavam a iniciar um bate papo informal do que qualquer desconforto, as pessoas passavam respeito diferente ao saber da nossa origem. Era como se apartir do momento que soubessem de onde eu vinha, um pedaço da minha personalidade já devia ser conhecida.
Honestamente acho isso ótimo. Ser gaúcho realmente tem algum significado, que vai muito além da imagem caricata, que muitos costumam construir de um peão de bota e bombacha com sua prenda de vestido. Além de algumas definições do termo Gaúcho no Wikipedia, Gaúcho e os livros Martín Fierro, de José Hernández e Rodeio dos Ventos, do Barbosa Lessa, são ótimos como ponto inicial para quem nunca pensou nisso.Mas como músico que sou, acho ótimo poder recorrer a trechos de algumas obras que explicam com perfeição para mim:

Gaúcho, do Nico Fagundes
“... São os homens de a cavalo 
que agarram o céu com a mão, 
rasgando fronteira e chão, 
marcando terneiro a pealo, 
bebendo o canto do galo 
no alvorecer do rincão...”
Jeito Gaúcho, do Pirisca greco e Miguel Azambuja
“Esse meu jeito gaúcho tá no violão
Em cada fio de bigode, no aperto de mão
Tá no amargo do mate, tá no afago do catre
Na poesia e na canção...”

Gaúcho – Rubem Solfildo da Silva
“...Gaúcho é nome e herança,
Que os bravos heróis nos legaram,
Que muito mal empregaram
Não compreendendo por certo
Gaúcho é altivo, esperto,
Espontâneo, inteligente,
Respeitador bom amigo,
Mas quando encontra o perigo,
Costuma chegar de frente...”

Pra o Meu Consumo, de Gujo Teixeira e Luiz Marenco
“...Têm coisas que tem seu valor
Avaliado em quilates, em cifras e fins
E outras não têm o apreço
Nem pagam o preço que valem pra mim...”

No final das contas, tento levar a vida de forma a merecer assim ser chamado. Quando me chamam gaúcho, sinto um orgulho enorme e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Mas hoje, sinto uma revolta em como pode um boleiro da estirpe do Ronaldo, carregar no seu nome para o mundo todo, algo que ele com certeza não sabe o que significa.
Mesmo torcedor do meu glorioso Internacional, colorado fanático e um grande secador do nosso vizinho tricolor, me senti envergonhado demais com os fatos que todos vimos agora em torno da volta dele para o Brasil. Definitivamente as atitudes e escolhas desse rapaz, (tanto no passado, como as de agora) não dizem respeito a alguém que faça por merecer carregar a expressão Gaúcho no seu nome.
Espero que isso tudo não seja um sinal de que esses valores estejam se perdendo. Que esse rapaz mantenha distância do nosso estado e faça uma manifestação pública de que ele não quer mais que seja vinculado ao termo Gaúcho. Que as próximas gerações continuem aprendendo que existem coisas maiores que o dinheiro (coisa que acredito que ele já tenha o suficiente) e que o nosso hino seja cantado cada vez com mais verdade dentro dos nossos peitos.


“Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo...”


Que de uma vez por todas, não sejamos escravos do dinheiro. Amo o meu estado e o meu país e com certeza não quero passar necessidades, mas foi aqui que aprendi a ter vergonha na cara, coisa que acho que esse cara não aprendeu nada.

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