quinta-feira, 31 de março de 2011

SOU UM BAITA OPORTUNISTA

Admito que sou um baita oportunista. Pelo menos no meu blog consigo ser. Quando tem algum tema em evidência logo corro aqui para escrever e entrar na discussão do momento, tornando o meu blog super visitado. Foi assim quando escrevi um texto sobre o caso do Ronaldinho (ex)Gaúcho com o Grêmio: recorde de acessos no blog.
Confesso que não era o assunto mais importante a ser tratado naquele momento. Com tanta coisa mais relevante e útil para a sociedade, eu fui perder meu tempo dissertando sobre futebol e o orgulho gaúcho que esperávamos que o dentuço tivesse. Uma grande besteira e lá estava o índice de visitas no meu blog nas alturas “bombando” como normalmente não está. Puro oportunismo.
Com o fato de a Ângela Vieira ter dito ao final da sua bela apresentação da peça “O Matador de Santas”, na Fundação Casa das Artes, na última noite de terça, dia 29 de abril, vou entrar na onda dos muitos oportunistas que também deram as caras e dar o meu pitaco.
Depois de elogiar a cidade, a hospitalidade e o belíssimo teatro que temos, Ângela pediu que as autoridades concluíssem as obras que dão infra-estrutura aos artistas nos bastidores. Segundo ela: “vocês não enxergam, mas aqui atrás precisa ficar tão bonito quanto o que vocês estão vendo aqui na frente”.  Não sei se foi literalmente assim (quase), mas o que importa é que bastou pra gerar notícias em sites, jornais e discussão nas redes sociais, entre os bento gonçalvenses.
Claro que uma atriz da Globo, com uma vasta experiência, se apresentando nos melhores teatros do Brasil, com regalias que uma global precisa, realmente deve sentir a falta de estrutura ideal. Mas também pela poderosa bagagem que tem, deu conta do recado e não diminui em nada a qualidade do seu belo espetáculo que emocionou a todos.

Aliás, será que alguém sabia dessa pendência na Fundação Casa das Artes? Até então alguém tinha se incomodado com o fato de os bastidores do palco estarem inacabados? Porque as pessoas estão dando importância a isso? Estão sensibilizados com a estrutura ideal para os artistas poderem re alizar os espetáculos? Querem saber das outras dificuldades dos artistas além do Palco inacabadoA conclusão da obra de fato ainda não terminou, faltam diversos detalhes técnicos. 

Apesar desses pesares técnicos, essas pendências na obra não impediram em nada que fossemos agraciados com uma lista enorme de artistas que desfilaram naquele palco. Tivemos lá: The Beats (considerado o melhor cover dos Beatles), Orquestra de Caxias do Sul (com a fabulosa peça os Saltimbancos), Primeiro as Damas, O Analista de Bagé, Renato Borghetti, Tom Zé, Lucio Yanel, Orquestra da Ospa, além de diversas atrações que permearam a Semana da Música e até oportunidades para artistas daqui, inclusive o Ópera Pampa (do qual faço parte) subiram no palco com toda pompa de estar tocando no Teatro.

Para o artista é nobre se apresentar em um teatro. As pessoas sentadinhas, confortáveis, apreciando e prestando atenção no teu trabalho, nos teus sentimentos, nas tuas crenças e no fim, naquilo que os artistas querem que as pessoas levem nos seus corações. Mas o mais importante é as pessoas estarem lá, que tenha público e se puder, que o teatro esteja lotado. A arte não faz sentido sem alguém para tocar e ser tocada, receber algo em troca: suspiros, palmas, gritos, vaias, sorrisos, gargalhadas ou lágrimas. O público sempre toca o artista de alguma forma.

É revoltante ir num show maravilhoso como o do Tom Zé, que é uma entidade da música brasileira e a casa não estar lotada (não estava lotado, acreditem). Tom Zé merece casa lotada. Imaginem a tristeza de um maestro (como o da UCS) que preparou um especial para o Dia das Crianças, com uma releitura dos Saltimbancos, do Chico Buarque e termos cadeiras vazias no teatro. Muito triste. Assistir ao maravilhoso show do Marcelo Caminha, no SESC, ao lado de não mais que 20 pessoas é algo igualmente triste. Poderia ficar horas aqui lembrando belos espetáculos que estiveram em Bento e não receberam do público o prestígio que indiscutivelmente mereciam.

Que maravilha saber que tantas pessoas estão tão preocupadas com o bem estar dos artistas. Aquela obra inacabada realmente é um problema para quem está no palco, principalmente em dias frios. Acredito que os artistas que possam por ventura usufruir daquele palco, devem estar radiantes ao ver a preocupação de tantas pessoas com o bem estar dessa classe de trabalhadores. Estão sensibilizados conosco. Aonde já se viu um músico tocar com frio ou um ator interpretar sem um camarim decente que lhe dê suporte. É confortante ver as pessoas preocupadas com isso.

Porém,lhes garanto que nada é mais frio que uma cadeira vazia em um teatro. Espero que esses que criticaram tanto o fato do momento, sejam fiéis espectadores da rotina cultural da cidade. Tenho certeza que muitos deles pouco ou nunca foram naquele teatro. Mas tenho certeza que os próximos artistas que passarem por lá, ainda preferem passar o frio vindo da falta de estrutura, do que pelo frio de um teatro vazio.

Senhores, sejamos dignos de merecer os investimentos que esperamos que aconteçam lá. Vamos prestigiar sempre o que for oferecido no âmbito da cultura, pois essa é a nossa moeda de troca enquanto cidadãos. Deixemos de aproveitar o fato para descascar uma administração pública e passemos a olhar para os nossos umbigos, se como espectadores estamos fazendo por merecer o que está sendo ofertado. 

Não, não estou defendendo esta e nenhuma outra administração municipal. Não sou filiado a nenhum partido por um motivo muito simples: nós somos a força da mudança em tudo na sociedade. Não acredito que ela partirá de nenhum governo ou partido. Portanto, deixemos de ser oportunistas em justificar o nosso fracasso na falta de prestígio a cultura e sejamos construtores de algo melhor para nós mesmos.