quinta-feira, 14 de abril de 2011

UMA NOVA FORMA

Com o alvará devidamente concedido pela minha gringa, me bandeei para a capital na noite da última terça, dia 12 abril, com a missão de assistir pela primeira vez o show do Pirisca Grecco y La Comparsa Elétrica. Primeira apresentação no Dhomba, o show faz parte de um projeto batizado de “Clube da Esquila”, que vai acontecer uma vez por mês por ali, sempre contando com convidados especiais. A estréia foi com a participação do Tonho Crocco (Ultramen) e do Zelito.
Ao lado de Lenine, Jorge Drexler, Mombojó, Julieta Venegas, Marcelo Camelo e Fito Paez, o Pirisca faz parte da trilha sonora da minha vida nos últimos anos. Parece estranho dizer isso de alguém tão próximo. O cara é de Uruguaiana e também participa de um festival lá em Manoel Viana, na beira do rio Ibicuí, aliás, rio que eu tenho como o rio da minha infância.
Mas vamos ao show. O tema abre alas foi “Co’as espora torta”, (parceria do Pirisca com o Tulio Urach e Tukano Netto), que é um primor de obra. Letra e música maravilhosas, que não tem o que tirar nem por. Dali em diante é um abraço. O desfile continua com Jeito Gaúcho, Milonga Bruxa, Muchas Gracias, Zambita Nueva, e diversas outras belíssimas canções da discografia do Pirisca.
Como era previsto então, rola a canja do Tonho Crocco e o show ganha ainda mais força no seu significado: o que é regional se lança para o mundo porque é universal. Além de músicas do próprio Pirisca, Tonho interpreta músicas da Ultramen, Amigo Punk, músicas do seu trabalho solo e até direito a uma citação de Guri, do César Passarrinho (João Batista Machado / Júlio Machado da Silva Filho).



A essas alturas um desavisado iria começar a se questionar aonde estamos. Sim, a descrição é de um lugar extremamente urbano na cidade baixa, capital do Rio Grande do Sul, com pessoas de bombacha, tomando cerveja e outros de chapéu de sambista, camisa branca e bermuda, ao mesmo tempo que falam de coisas do campo, da alma, do peito, do mate. Uma mistura enorme, que dá a sensação de uma roda aberta. Todos são bem vindos a ouvir o que temos para dizer sobre o nosso chão, a nossa terra e dizemos de um jeito que todos vão entender.
Na finaleira rola a participação do Zelito, com um nova versão para "Esquilador" do Telmo de Lima Freitas. Essa foi como um tapa na orelha. Juro que fiquei atordoado. O meu comentário depois do show devia ser chato de tão repetitivo (a cerveja ajuda na redundância): o meu filho (que deve nascer ainda no mês de maio) vai ouvir Telmo de Lima Freitas com naturalidade. Se eu ligar o DVD na sala, enquanto fazemos o assado de domingo ou a janta na semana, vai despertar tranqüilamente os sentidos do guri. Ele não vai rejeitar porque vai ser parecido com ele. 
No ano passado fiz um curso na Perestroika e uma das coisas que o Felipe Anghinoni e o Tiago Mattos dizem é que existe uma revolução acontecendo revendo o jeito de se fazer tudo no mundo. É um fato. Tanto nos negócios, como na publicidade, nas artes e na vida, existem novas formas nascendo. O que eu vi e tenho ouvido tanto da obra do Pirisca pra mim é isso: uma nova forma de cantar o Rio Grande, para que o mundo te escute e entenda. Com tudo o que está a nossa disposição hoje através da internet e a nova forma como as pessoas se relacionam, o tradicionalismo precisava disso, não pode ficar de fora. São dois movimentos de mudança: quem produz a arte e de quem consome. No âmbito regional esta mudança de fato está acontecendo com ainda mais força.
Não posso ser injusto e deixar de comentar que tem mais gente fazendo isso, achando novas formas. O Quartcheto tá com uma obra fantástica, o Borghetti leva a música para a Europa desde que eu me conheço por gente, além de diversos outros que eu nem saberia listar, por tantos que são: Bebeto Alves, Geraldo Flach, Vítor Ramil, Kleiton e Kledir, Mário Barbará, Yamandu Costa, entre tantos que fazem parte dessa corrente. A diferença é que o momento é mais propício, a internet vai facilitar muito as coisas e o Pirisca tá ligado nisso. Não é só fazer um site legal e simplesmente estar na rede social do momento. A nova forma que o Pirisca está praticando alcança um patamar muito contemporâneo.
Meu desejo é que o projeto "Clube da Esquila" seja um sucesso no resto do ano. Que lote aquele lugar todos os meses e que cada vez mais pessoas estejam por lá participando. Me agrada saber que a arte com cara de pampa esteja rompendo as fronteiras e sendo sentida por todos os cantos, sem preconceitos. Já dizia o Cabo Deco:

"une as vozes num só canto
todos na mesma canção
abandona o preconceito 
e toca um jazz no galpão."


Um comentário:

  1. Que bonito texto Rodolfo.
    Obrigado pelas palavras e segue o clube;
    Pois todos são bem-vindos.
    abrazos
    Tonho Crocco

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