sábado, 7 de dezembro de 2013

NÃO VIVO SEM MÚSICA



Eu e minha mania de escrever sobre reflexões que acabei fazendo em momentos cotidianos. Dessa vez o fato aconteceu faz muito tempo. Tanto tempo, que nem lembro quando foi. Mas basicamente diz respeito à música, ou melhor, a minha sina de ser músico (se é que ainda posso ser classificado assim).

Estava eu no banco pagando uma conta e um conhecido, da época do segundo grau, entrou na fila comigo. Começamos a bater um papo e o tema da conversa rumou para “E aí, muitos shows? Tocando muito?”. Se as perguntas tivessem terminado assim, não seria muito diferente do que acontece até hoje. Muitas pessoas que me conhecem, sabem que eu toco e adoram puxar assunto assim. Mas o caso em específico terminou com uma pergunta especial, que muitos talvez tivessem a vontade de fazer: “ainda não desistiu do sonho da música?”.

Por um instante quase fiquei ofendido com a pergunta. Nunca sonhei com a música, ela é uma realidade na minha vida e na vida de muita gente. Para tentar explicar não vou nem rebuscar a memória e vou usar a música que estou ouvindo no momento que escrevo o texto:

“Quando a gaita chora
O sorriso aflora, a saudade estanca
Quando abre o fole
Arrepio na pele, nó na garganta
(Quando a Gaita Chora – Érlon Péricles e Zelito Ramos Souza) via Rádio Tertúlia

Simples assim. Estou aqui ouvindo música, na voz da Shana Müller, me emocionando com o que ela diz, com as letrinhas e as notinhas que emanam dela. Acho que as pessoas confundem as coisas quando a gente se dispõe a subir no palco para cantar e tocar um instrumento. Eu não almejo ser o Eric Clapton ou o vencedor do The Voice. A música faz parte da minha vida e eu não imagino o mundo sem ela. Dei sorte de saber tocar e cantar.

A minha família é muito musical e talvez esteja aí a explicação. Dona Zulmira G. Trindade Pereira da Costa, minha mãe, é Bacharel em Direito, cursou Belas Artes, se aposentou como escrivã e desde que lembro do mundo, ela toca piano, lendo partituras de tango e música clássica na sala de casa. As primeiras aulas de piano que tive, foram com a Vó Purcina, mãe do meu pai. Depois disso, quando resolvi aprender alguma coisa no violão (dado pelo pai Wladimir Pereira Costa) a Vó Rosa veio com um disco do Baden Powel, dizendo: Se tu quer aprender violão tem que ouvir esse aqui.

Isso tudo não foi sonho, juro que foi tudo real. Se já subi em palcos e cantei para alguém ouvir, mas honestamente não sei explicar se foi porque me pediram ou eu que fui atrás disso. Mas sei que nunca foi algo que dissesse respeito a essa áurea que se faz em torno da música. Nunca me imaginei no palco do Planeta Atlântida, no programa do Jô ou vendo uma multidão cantar uma música minha. Gosto de tocar, cantar, compor e ponto. Sou péssimo para lidar com o que rola daí em diante, talvez justamente por nunca ter sonhado.

Conheço muita gente que colocou o instrumento em cima do guarda-roupa, sob o argumento de focar na faculdade, na empresa ou no filho que acabou de nascer. Não é o meu caso. Não tenho um cantinho escondido em casa, com uma coleção de guitarras e violões. Tenho violão rolando pela casa, que o Frederico sempre teve a disposição para fazer o que quisesse, às vezes esqueço ele no porta-malas depois de um show e se der o acaso de eu estar com ele em qualquer lugar e der vontade, eu toco ou abro o peito facinho.

A arte de uma forma geral, abre meus olhos para muita coisa. Abre os poros para muitas sensações que gente insensível não percebe. Do que o Chico Buarque estava falando na letra de “O que será”? Quando pequeno eu imaginava e ficava com medo. Isso me interessou a descobrir do que ele falava, que era tão assustador. Hoje eu entendo o que aconteceu no Brasil na ditadura. O Renato Russo cantou “Você diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais”. Me ajudou em muitas discussões juvenis. Quantas coisas o Vinícius de Moraes me inspirou para ser apaixonado, como é bom sofrer de amor por uma mulher. Juro, tudo isso é muito real, nada foi sonho.

Hoje tenho minha empresa, dou aulas na faculdade e também faço shows, com o Ópera Pampa ou sozinho (ultimamente muito pouco ou quase nada). Mas isso não significa que eu esteja sonhando e esperando algo. A música segue comigo, ouvindo meus artistas favoritos, ouvindo as músicas do Wladimir da Costa, cantando com o meu filho na hora de dormir (de bagunçar também) ou anotando temas para quem sabe um dia voltar a compor. Não vou esconder nada. Resumindo, não ganho a vida com a música, mas não vivo sem música.

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