quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Separatistas!?

Além de triste, fiquei impressionado com o que gerou a entrevista dada pelo Nei Lisboa no último dia 25 de janeiro. Entre outras bobagens, ele fala que “a música gauchesca lhe parece muito ruim, estética, ideológica e musicalmente” e que “a música gaúcha se torna intragável para qualquer pessoa mais esclarecida”. Então acabaram surgindo posições como a do César Oliveira e do João de Almeida Neto, além de diversos comentários nos blogs aonde os textos foram publicados e depois uma emenda publicada pelo Nei que saiu pior que a encomenda.


De verdade, fico triste pela situação toda, porque acabam surgindo posicionamentos fortes de todos os lados que criam a sensação de que existem forças em dividir ou separar a arte do nosso estado de alguma forma. Tenho certeza que a maioria das pessoas não quer isso.

Fico com a impressão que são argumentos que estavam guardados, como um arsenal de armas pronto para ser usado, porque de fato é quase lógico que a qualquer momento essas opiniões surgiriam. Digo quase lógico, porque sempre houve e sempre haverá quem se posicione contra manifestações culturais que tenham identidade forte. Mesmo assim afirmo: há quem conviva e desfrute de todas elas juntas da forma mais saudável.

Que legal ver que o mesmo Bebeto Alves que gravou um disco inteiro com o papa da viola campeira, Lucio Yanel, teve uma composição sua gravada pela Ana Carolina, lá no instransponível centro do país, ou ver que um disco maravilhoso do Luiz Marenco, teve contribuição de um guru da música pop como o Thedy Correa. Quem disse que não podem conviver e trocar?

Se me der vontade, danço uma vanera no CTG, vou pra Redenção de alpargata, bombacha e mate na mão, depois se mudar de idéia vou pra Cidade Baixa e curto a boemia e samba da noite na capital, tomando uma cerveja gelada e no domingo de manhã escuto um milongão curando a ressaca, assim como muitos e muitos aqui nos pampas.

Quem define aonde começa um e termina o outro? Quem estabelece aonde se deixa de ser campeiro e começa a ser urbano? O mesmo coração que bate ao ouvir Geraldo Flach, Nei Lisboa, Borghetti, Yamandu ou a Cidadão Quem é mesmo acelera quando ouve um verso do João da Cunha Vargas, ou uma música do Pirisca, do Noel Guarani, da Ultramen, do César Oliveira e do Rogério Melo. São diferentes? Entre todos “porsupuesto”, mas são todos gaúchos e isso me basta para me encher de orgulho.

O Nei Lisboa foi infeliz no que disse, podia ter ficado quieto porque tem uma obra incrível, que por si já fala. Acho que ele deve estar passando por um momento ruim e acabou falando besteira ou deve ter um ciuminho do movimento que de fato rende como o negócio dele não deve render. Mas da mesma forma, digo aos campeiros como o César Oliveira, que as muralhas hoje são muito menores do que parecem, a “Cola Atada” toca em muito mais celulares do que ele imagina.

Afinal como já disse o Jayme Caetano Braun: “para aquele atenta e raciocina com calma, gaúcho é um estado d’alma sob qualquer vestimenta.” Aliás, essa do Jaime, conheci num CD dele de pajadas de improviso, que tive acesso lá no Passo do Inhanduí, em Alegrete e que gravei imediatamente no meu laptop. Como sou organizado ficou na letra J, ao lado de outros como: Jairo Lambari, Jarabe de Palo, Jimi Hendrix, Jorge Drexler...

Um comentário:

  1. Rodolfo,

    Passando por estas bandas, li, gostei e ratifico sua indignação a estes sectários, ou melhor, infelizes comentários, que tentam estreitar nossa liberdade de escolha.

    Adora a sonoridade das músicas do Victor Ramil, assim como me emociono ouvindo José Caludio Machado. Quero e vou continuar assim ligado nas minhas raízes, pois assim sou feliz.

    Fraterno Abs.

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